quinta-feira, 26 de abril de 2012

manuel a. domingos


manuel a. domingos, poeta convidado


3 POEMAS INÉDITOS


Contrapunctus 1

Sento-me à mesa
O lápis em vez da caneta
já vai algum tempo
Não sei o que espero

nem a razão deste verso
Coisas há impossíveis
de definir: tu na sala
lês um livro qualquer

e nesse livro também tu
de pernas cruzadas
na luz do fim do dia
O silêncio da casa é

um mundo novo
que não vem em nenhum
compêndio ou gramática.






Contrapunctus 5

Acordar tarde é
uma opção entre outras
como por exemplo
ficar abraçado a ti

ouvir o filho dos vizinhos
gritar pela mãe
vezes e vezes sem conta
decidir que não está

um dia tão mau para sair
Por isso dispenso
a poesia a esta hora
Que mais podemos fazer

se lá fora chove
e o edredão aquece mais
que todo o sol do mundo?






Contrapunctus 7

Há sempre uma luz
que amplia a noite
devolvendo a tua sombra
a dançar no estuque

Seria um exagero dizer
que quero para sempre
aqui ficar mas tenho
esta tendência para

a hiperbólica visão dos dias
para ser decadente
passear pela rua cigarro
atrás de cigarro

praguejar ininterrupta-
mente logo eu que nunca gostei
de advérbios de modo




Fotos ilustração dos poemas © de Amadeu Baptista


manuel a. domingos (1977) tem colaboração dispersa em várias revistas: Praça Velha (Guarda), Palavra em Mutação (Porto), Sulscrito (Faro), Big Ode (Lisboa), Sítio (Torres Vedras), Piolho (Porto) e A Sul de Nenhum Norte (Coimbra). Foi colaborador do suplemento literário Correio das Artes (João Pessoa, Brasil). Publicou, até hoje, três livros de poesia: Entre o Silêncio e o Fogo (AQUILO Teatro, 2002), Mapa (Livrododia, 2008), Teorias (Edição do Autor, 2011).

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